terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um Sacerdócio regido por preces ao Doce Senhor


Dom Guilherme Emmanuel Ketteler (1811-1877), bispo alemão, famoso por sua vasta cultura e influência na Igreja e na sociedade de seu pais, encontrou-se, em 1869, com um outro bispo. Diante dos elogios que ouviu do colega, Dom Ketteler lhe respondeu: “Tudo o que fiz, consegui realizar com a ajuda de Deus. Devo isso às preces e aos sacrifícios de uma pessoa que não conheço. A única coisa que sei é que alguém ofereceu a Deus sua vida em sacrifício por mim e, graças a isso, tornei-me sacerdote”. E continuou: “Eu nunca havia pensado em ser padre. Quando cursava a Faculdade de Direito, sonhava exercer uma profissão que me desse condições de, rapidamente, conseguir fama e muito dinheiro. Um fato extraordinário, porém, levou minha vida em outra direção.
Uma noite, estava sozinho em meu quarto e fazia grandes planos. De repente, não sei o que aconteceu; não sei se estava acordado ou não; não sei nem dizer se o que vi foi realidade ou sonho. Só de uma coisa eu sei: o que vi mudou radicalmente o rumo de minha vida. De forma nítida, vi Cristo numa nuvem, acima de mim, envolto em luz. Mostrava-me seu Sagrado Coração. Diante dele estava uma freira ajoelhada, com as mãos erguidas em posição de intercessão. Ouvi, então, Jesus me dizer: ‘Ela reza por ti sem cessar!’ Vi com clareza o rosto da religiosa; sua fisionomia me impressionou tanto que ainda hoje a tenho diante de meus olhos Ela me parecia uma pessoa muito simples. Sua roupa era pobre e grosseira, suas mãos eram avermelhadas e cheias de calos. Qualquer coisa que tenha sido aquilo, sonho ou não, foi para mim um fato extraordinário, pois fui atingido no mais íntimo de meu coração e, a partir daquele momento, resolvi consagrar-me inteiramente a Deus no serviço sacerdotal.
Recolhi-me num mosteiro para um retiro e conversei sobre isso com meu confessor. Aos trinta anos, comecei, então, os estudos de teologia. O resto, você já conhece. Se agora você diz que tenho feito muita coisa boa e importante, sabe de quem é o mérito: daquela religiosa que rezou por mim, talvez sem mesmo me conhecer. Tenho certeza de que não só rezou por mim, mas que ainda reza. Sem suas orações, não teria conseguido fazer o que Deus queria que eu fizesse.”
O colega bispo, então, lhe perguntou: “Você tem idéia de quem é essa pessoa que reza em suas intenções e onde ela vive?” “Não! Mas peço a Deus que a abençoe e, se ainda estiver viva, que lhe dê mil vezes mais o que deu a mim”.

A irmã do estábulo
No dia seguinte, Dom Ketteler foi visitar um convento de freiras numa cidade próxima. Ali, celebrou a santa Missa para a comunidade. Quando estava terminando a distribuição da Comunhão, seu olhar se fixou numa das religiosas. Ficou surpreso com o que viu, mas não o demonstrou e, calmamente, terminou a celebração. Após o café, Dom Ketteler pediu à Madre Superiora que lhe apresentasse as religiosas, no que foi atendido. Ele as cumprimentou atentamente, mas não viu aquela que estava procurando. Em voz baixa, dirigiu-se à Madre: “Estão aqui todas as irmãs?” Ela, olhando o grupo, lhe respondeu: “Excelência, chamei todas, mas, de fato, falta uma!” “E porque não veio?” A Madre lhe respondeu:. “Ela cuida do estábulo, e de maneira tão exemplar que, às vezes, até se esquece das outras coisas.” “Desejo conhecer esta irmã”, disse-lhe o bispo. Pouco depois, a freira chegou e lhe foi apresentada. Ao vê-la, ele novamente ficou surpreso e, após ter dirigido algumas palavras a todas as religiosas, pediu para ficar a sós com a que chegara. “Você me conhece?” perguntou-lhe. “Excelência, eu nunca o vi!”, respondeu-lhe a religiosa. “Por acaso, você rezou e ofereceu boas obras por mim?”, quis saber Dom Ketteler. “Não tenho consciência disso, pois nem sabia da existência de Vossa Excelência!”, ela lhe respondeu. O bispo ficou alguns instantes imóvel, em silêncio; depois, fez outras perguntas: “Quais devoções que você mais ama e pratica com maior frequência?” “A devoção ao Sagrado Coração”, respondeu-lhe prontamente a irmã. “Parece que você tem o trabalho mais pesado de todo o convento!” continuou o bispo. “Ó, não, Excelência! É verdade, sim, que às vezes ele me repugna!” “Então, o que você faz quando tem vontade de desanimar?” “Acostumei-me a enfrentar, por amor a Deus, com zelo e alegria, todas as tarefas que me custam muito e depois ofereço-as por uma pessoa no mundo. Deixo para o bom Deus escolher a quem quer aplicar aquele ato de amor; eu não quero saber para quem o aplica. Também ofereço a hora da Adoração ao Santíssimo, à noite, das vinte às vinte e uma horas, nessa intenção.” “E como teve a idéia de oferecer tudo isso por uma pessoa?”, voltou a lhe interrogar o bispo. “É um costume que eu já tinha quando ainda vivia em casa. Na escola, o Pároco nos ensinou que deveríamos rezar pelos outros como se faz para os próprios parentes. E acrescentava: ´É preciso rezar muito por aqueles que correm o risco de se perderem para a eternidade. Mas visto que só Deus sabe quem tem mais necessidade, a melhor coisa que podemos fazer é oferecer as orações ao Sagrado Coração de Jesus, confiantes em sua sabedoria e onisciência’. E assim eu faço, tendo a certeza de que Deus encontra a pessoa certa para aplicar minhas orações e sacrifícios!”

Dia do aniversário e da conversão
“Quantos anos você tem?”, perguntou-lhe o bispo. “Trinta e três anos, Excelência”. Mais uma vez surpreso, ele quis saber: “Quando você nasceu?” A religiosa lhe disse o dia de seu nascimento. Dom Kettleler não podia acreditar: tratava-se exatamente do dia de sua conversão! Ele a vira exatamente assim, à sua frente, como estava naquele momento. “Você não sabe se suas preces e seus sacrifícios tiveram sucesso?” “Não, Excelência” “E não gostaria de saber?” “O bom Deus sabe quando fazemos algo de bom; isso me basta”, foi a simples resposta. O Bispo estava emocionado: “Então, pelo amor de Deus, continue a agir como está agindo!”
A religiosa ajoelhou-se à sua frente e lhe pediu a bênção. Dom Ketteler levantou solenemente as mãos e, com profunda emoção, a abençoou. Terminada a bênção, ela disse: “Amém!” E se afastou.
Congregatio pro clericis pp. 26-28

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