quarta-feira, 14 de julho de 2010

Paz na Suma Espiritualidade Franciscana



Frei Celso Márcio Teixeira, OFM

Introdução
Um dos mais profundos anseios do coração humano é o anseio pela paz. Fundamentalmente, todas as utopias da humanidade - elaboradas ou não - se resumem no desejo de paz. A utopia que se chama cristianismo também é fundamentalmente um desejo de paz. E quanto mais distantes estivermos dela, mais sonharemos com ela; quanto mais violento for o mundo que nos rodeia, mais a desejaremos. Este desejo é como uma minúscula brasa que fica escondida sob um montão de cinzas, esperando que alguém venha soprá-la para que ela se manifeste em todo o seu brilho e calor. Perder a esperança e não crer nesta utopia significa apagar em si o sonho que dá sentido à vida; e apagar o sonho da vida é extinguir-se a si mesmo. Por isso, aqui vale o conselho do profeta Isaías: Não apagar o pavio que ainda fumega (cf. Is 42,3).


Ao longo da história, vários foram os profetas da paz que tentaram manter acesa, ainda que sob uma montanha de cinzas, a brasa da paz. Somente para lembrar os nomes de alguns: Isaías, o profeta da paz, elaborou a sua utopia, na qual ele via o lobo comer com o cordeiro (cf. Is 11,6-9); Jesus Cristo anunciou um reino que resumia todas as utopias do ser humano, "reino da verdade e da vida, reino da justiça, do amor e da paz"; Francisco de Assis, trovador e profeta, símbolo de homem reconciliado com todos os seres, desde a mais brilhante estrela do firmamento ao minúsculo verme que se arrasta pela terra; Mahatma Ghandi, o homem que pregou a revolução pela via da não violência.

O mundo atual, marcado pela cultura da morte, ainda sonha com a paz. Isto significa que o pavio ainda fumega (cf. Is 42,3). A sociedade movimenta-se de maneira pluriforme em busca da realização dessa utopia. Este contexto nos parece campo fértil para que franciscanos e franciscanas desenvolvam toda uma evangelização voltada para a paz. A inserção nos movimentos de paz será um dos lugares preferenciais de presença franciscana. Aí temos a tarefa de dar uma contribuição tipicamente franciscana.


Esta contribuição, a nosso ver, não pode limitar-se ao nível panfletário. Temos uma contribuição mais substancial a oferecer. Ela abrange dois pólos: Um em nível de reflexão, outro em nível de ação. Em nível de reflexão, temos toda uma espiritualidade que serve de fundamentação para nossa presença nos movimentos de paz; temos toda uma teologia a oferecer aos nossos interlocutores e aliados. Em nível de ação, devemos ter a coragem de abandonar nossas "pastorais" rotineiras e partir para uma presença mais ágil e significativa no meio dos pobres, dos excluídos, primeiras vítimas silenciosas de sistemas causadores de violência, de exclusão e de morte.


Portanto, é importante que tenhamos consciência de que nossa contribuição franciscana deve ser qualificada. Distribuir panfletos? Todo mundo pode fazer isto. Uma reflexão franciscana e uma presença franciscana de qualidade, ao contrário, é tarefa que cabe unicamente a nós.

1. Uma reflexão preliminar: A evangelização como quadro de referência do anúncio franciscano da paz
Normalmente, quando se escreve ou se fala sobre o tema da paz em Francisco de Assis, vai-se entrando imediatamente no tema, praticamente sem fazer alusão a um quadro mais amplo de referência. Começa-se a tratar da paz que Francisco pregava, como que desvinculando-a do conjunto ou amputando-a do corpo todo da atividade e da proposta de vida de Francisco. Por isso, o anúncio da paz corre o risco de ser compreendido como um apêndice, como algo que Francisco fazia ao lado de sua atividade evangelizadora, ou apenas de vez em quando, ou como um tema ao lado de outros. Está aí, a nosso ver, uma compreensão parcial (portanto, distorcida) do que Francisco entendia pelo anúncio da paz. Realmente, o fato de desvincular a proclamação da paz de toda a atividade (e espiritualidade) de Francisco não deixa de empobrecer o próprio conteúdo de sua concepção sobre a paz.


Segundo nosso modo de ver, o quadro de referência para o anúncio (e compreensão) da paz está na evangelização. Evidentemente, o termo "evangelização" é recente na teologia. Praticamente, só ganhou impulso e divulgação e relevância a partir da encíclica Evangelii Nuntiandi, do Papa Paulo VI. Mas a prática da evangelização é tão antiga como o próprio evangelho. Por isso, podemos atribuir uma terminologia nova a uma prática antiga (no caso, da Idade Média), conscientes de não estarmos traindo a verdade dos fatos.


A evangelização é o ponto chave para compreendermos a vocação de Francisco e de seus companheiros (por conseguinte, a vocação legada como herança a toda Ordem). Uma leitura mais comum, inclusive dos biógrafos da primeira hora, tem centralizado a vocação de Francisco na escolha da pobreza. Esta seria para muitos a ótica sob a qual deve ser contemplado todo o desenvolver da vocação franciscana. Nosso modo de considerar prefere ver na evangelização o pólo catalisador de todo o movimento franciscano desde as origens. De fato, após alguns anos de busca de uma resposta, vivendo primeiramente como eremita e depois como reconstrutor de capelas, Francisco sente-se tocado pelas palavras do Evangelho (1) que teria ouvido durante uma missa na Porciúncula. Tratava-se do texto do envio dos discipulos (Lc 10,1-11 ou Mt 10,1.5-15; em Mt trata-se do envio dos doze) para anunciar o Reino.

Ora, este texto do Evangelho, depois de descrever o envio dos discípulos na condição de pessoas despojadas (nada leveis pelo caminho), contém três elementos nucleares: a) a saudação da paz; b) a cura dos doentes; c) o anúncio do reino (esta ordem em Mt 10 está exatamente ao inverso).


Uma interpretação dicotômica poderia ver nestes elementos três fases da tarefa de evangelizar, a saber, a saudação da paz, como sendo uma introdução, a cura dos doentes, como uma preparação para a evangelização, e o anúncio do Reino, que seria a tarefa evangelizadora propriamente dita. A nosso ver, porém, estes três elementos constituem a própria evangelização. O conjunto todo é anúncio do reino. O reino de Deus só pode ser reino de paz, caso contrário não será reino de Deus. Por isso, a própria saudação de paz já é anúncio do reino, como também a cura dos doentes é anúncio de um reino sem males (cf Lc 7,18-23).


O primeiro biógrafo, mesmo com a tentação de interpretar a vocação de Francisco na ótica da pobreza (de fato, descreve primeiramente o despojamento de Francisco que troca o hábito de eremita por outro muito pobre e desprezível), passa em seguida a descrever a tarefa evangelizadora de Francisco: "A partir de então, com grande fervor de espírito e alegria da alma, começou a pregar a todos a penitência, edificando os ouvintes com palavras simples, mas com o coração nobre ... Em toda pregação sua, antes de propor a palavra de Deus aos que estavam reunidos, invocava a paz, dizendo: 'O Senhor vos dê a paz' (cf 2Ts 3,16; Lc 10, 4b). Anunciava-a sempre mui devotamente a homens e mulheres, aos que ele encontrava e aos que lhe vinham ao encontro. Por esta razão, muitos que odiavam a paz, com a cooperação do Senhor, abraçaram de todo coração a salvação juntamente com a paz, tornando-se também eles filhos da paz e desejosos da salvação eterna”(2).

A saudação da paz e a proposição da palavra de Deus, descritas por Tomás de Celano, remetem-nos imediatamente ao texto de Lc 10. Só falta o elemento da cura dos doentes. Esta constatação nos permite concluir que para Francisco a saudação e o anúncio da paz constituíam a própria evangelização, exatamente como ouvira do Evangelho. Na prática de Francisco, a evangelização inclui necessariamente o anúncio da paz. Em outras palavras: não se evangeliza, se não se anuncia a paz.

O Anônimo Perusino não narra o episódio da escuta do texto de Lc 10 na Porciúncula. Mas não desconhece que este texto fazia parte da origem da vocação de Francisco, pois ele coloca, logo após o despojamento de Francisco diante de Pedro Bernardone, a ressonância do texto do envio: "O Senhor conduziu-o pelo caminho reto e estreito, porque ele não quis possuir nem ouro nem prata, nem dinheiro, nem qualquer outra coisa (cf. Mt 10,9), mas seguiu o seu Senhor na humildade, na pobreza e na simplicidade de seu coração. Andando de pés descalços, vestia-se com um hábito desprezível, cingia-se com um cinto também muito barato" (3).

Embora o despojamento de ouro e prata, etc., fizesse parte de um texto dinâmico de envio a evangelizar, o AP prefere lê-lo na ótica da pobreza, desvinculando a pobreza do quadro da evangelização.


2. Evolução do conceito: da prática da pregação a um conceito mais amplo de evangelização
No entusiasmo de quem descobriu o sentido de sua vida, Francisco começa a pregar. Evangelizar significa inicialmente para Francisco dirigir-se ao povo, anunciar a palavra de Deus, lembrando sempre que o reino que ele quer anunciar é reino de paz. Por isso, insiste na saudação da paz. Como a saudação da paz fazia parte do envio dos discípulos, assim também ela faz parte de seu próprio envio.


Evangelização é, portanto, inicialmente compreendida como uma atividade ad extra, um dirigir-se ao povo. Dentro desta compreensão, podemos interpretar os dois ou três envios ou missões dos primeiros companheiros, antes mesmo da aprovação da regra:


a) Quando eles eram quatro: Francisco e Egídio foram à Marca de Ancona, os outros dois ficaram (4). Francisco não pregava ao povo, mas apenas exortava os homens e mulheres a fazerem penitências (5).


b) Quando eram seis: O envio é proposto como sua vocação: "Consideremos, irmãos caríssimos, a nossa vocação, porque Deus misericordiosamente nos chamou não somente para a nossa utilidade, mas também para a utilidade e salvação de muitos" (6). Eles anunciavam a paz em suas pregações(7).


c) Quando eram oito: No envio constava explicitamente o anúncio da paz: "Ide, caríssimos, dois a dois pelas diversas partes do mundo, anunciando aos homens a paz!” (8).

Um conceito de evangelização, que inicialmente se identificava com a atividade ad extra de pregar o reino, a penitência e a paz, começa muito cedo a alargar-se em compreensão. O anúncio exigia uma coerência de vida por parte dos evangelizadores. Quem prega o Evangelho é convocado à coerência, isto é, a colocar em prática, a fazer a experiência, a viver os valores que proclama com a voz.

É digno de nota que, após as primeiras missões evangelizadoras, quando se tratava de colocar por escrito numa regra essa vocação dada pelo Senhor, a vocação dos frades menores não foi expressa em termos de pregação ou de anúncio do Evangelho ou do reino, mas em termos de vida, de viver. Deste modo, já na primitiva regra apresentada a Inocêncio III para a aprovação, a vocação dos frades menores vem assim explicitada: Esta é a vida do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo que Frei Francisco pediu ao senhor papa ... (9). Evangelizar é pregar e proclamar, mas é também fundamentalmente viver os valores evangélicos proclamados.

Assim, é dentro da compreensão da coerência entre a proclamação e a vida que se entende a exortação de Francisco, quando enviava os frades em missão evangelizadora: "Assim como proclamais a paz com a boca, assim em maior medida tenhais em vossos corações a paz, para que ninguém por meio de vós seja provocado à ira e ao escândalo; mas todos, por meio de vossa paz e mansidão, sejam novamente chamados à paz e à benignidade" (10).

Detalhes preciosos da Regra mostram a compreensão ampla do conceito de evangelização. Ao tratar do modo como devem os irmãos ir pelo mundo, Francisco não ensina o que devem pregar, mas o modo de comportar-se que convém ao evangelizador: "Aconselho, todavia, admoesto e exorto a meus irmãos no Senhor Jesus Cristo que, quando vão pelo mundo, não discutam nem alterquem com palavras (cf. Tm 2,14) nem julguem os outros; mas sejam mansos, pacíficos e modestos, brandos e humildes, falando a todos honestamente, como convém. E não devem andar a cavalo, a não ser que sejam obrigados por manifesta necessidade ou por enfermidade. Em qualquer casa em que entrarem, digam primeiramente: Paz a esta casa (cf. Lc 10,5). E, segundo o santo Evangelho, seja-lhes permitido comer de todos os alimentos que forem colocados diante deles (cf. Lc 10,8)” (11).


Não nos passe despercebida a ressonância do texto do envio (Lc 10) que está sempre como pano de fundo da vocação dos frades menores. Presente e indissociável sempre a proclamação da paz, porque não existe uma evangelização sem a proposta de paz. Aliás, todas as atitudes que Francisco propõe são a própria proclamação da paz com o modo de viver. Em outras palavras, a vida dos irmãos devia ser o anúncio vivo do Evangelho da paz: em formulação negativa: não discutam nem alterquem nem julguem os outros; em formulação positiva: sejam mansos, pacíficos e modestos, brandos e humildes, falando a todos honestamente como convém ... e digam "paz a esta casa".


No confronto com as autoridades eclesiásticas constituídas, os novos evangelizadores (os que proclamam o Evangelho com a palavra e com a vida) só serão verdadeiros evangelizadores, se mantiverem a paz no coração:

"E embora quisesse que [seus] filhos vivessem a paz com todos os homens (cf. Rm 12,18) e se apresentassem a todos como pequeninos, no entanto, ensinou-os pela palavra e mostrou pelo exemplo a serem humildes, mormente com relação aos clérigos. Dizia, pois: 'Fomos enviados em auxílio (cf. Sl 69,2; Dn 10,13) dos clérigos para a salvação das almas (cf. 1 Pd 1,9) ... Sabei, irmãos - disse -, que a Deus é muito agradável o fruto das almas (cf. Sb 3,13) e que isto se pode conseguir melhor com a paz do que com a discórdia dos clérigos ... Se fordes filhos da paz (cf. Lc 10,6), havereis de lucrar o clero e o povo para o Senhor, o que o Senhor julga mais agradável do que lucrar só o povo, [depois de ter] escandalizado o c1ero” (12).

No fundo desta exortação está a seguinte compreensão: a evangelização (pela palavra ou pela vida) somente será eficaz, se for, ao mesmo tempo, anúncio de paz. Uma evangelização desvinculada da paz não é evangelização. A verdadeira evangelização é necessariamente proposta de paz.

Igualmente precioso é o modo de os irmãos irem para o meio dos sarracenos e de outros que não têm a fé cristã. Francisco prescreve dois modos de evangelização: a evangelização pelo modo de vida (a própria vida é o anúncio) e a evangelização pelo anúncio explícito (pela palavra). Novamente as exortações de Francisco para o primeiro modo de evangelização são propostas de paz (e toda proposta de paz é proposta do reino): "não litiguem nem porfiem, mas sejam submissos a toda criatura humana por causa de Deus e confessem que são cristãos” (13).

O fato de confessarem que são cristãos é, freqüentes vezes, interpretado como coragem de apresentar-se ao martírio, pois o fato de confessar-se cristão entre os sarracenos, devido à inimizade existente entre cristãos e sarracenos, era interpretado como uma oferta do pescoço à espada (14). Não vemos, porém, esta interpretação como o sentido primeiro. O confessar-se cristão seria, segundo nossa maneira de interpretar, uma forma de dizer: "Estes valores que estamos vivendo são simplesmente o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo". Portanto, no confessar-se cristão, está contido fundamentalmente um modo de evangelizar. Apenas secundariamente, poderia ter o sentido de disposição ao martírio.

Percebe-se, então, que o conceito de evangelização, inicialmente interpretado por pregação, evolui para uma compreensão mais abrangente que envolve não apenas o anúncio pela palavra (pregação), mas também a proclamação pelo modo evangélico de viver. A paz, por identificar-se com a própria evangelização, também não é somente algo que pregamos ou propomos aos outros, mas antes um valor evangélico que coerentemente procuramos cultivar no coração.

3. Tratados de paz: formas concretas de evangelização (força política da evangelização)
A crônica de um frade dominicano chamado Tomás de Spalato traz, entre seus relatos, um episódio muito significativo para compreendermos a evangelização de Francisco. Corria o ano de 1222. Tomás de Spalato, estudante que morava no Studium em Bolonha, teve oportunidade de ouvir uma pregação de Francisco. Limitemo-nos a citar apenas o que no momento nos interessa. Assim ele escreveu:


"Na verdade, todo o tema de suas palavras visava a extinguir as inimizades e a reformar os pactos de paz. O seu hábito era sujo, a pessoa desprezível, e a face sem beleza; mas Deus conferiu tanta eficácia às suas palavras que muitas famílias dos nobres, entre as quais o furor desumano de antigas inimizades eclodira em muito derramamento de sangue, foram levadas de novo ao pacto de paz" (15).

A primeira coisa que se deduz deste breve relato é que a preocupação de Francisco pela paz era uma constante em sua vida. O anúncio da paz não era algo dos inícios de sua vocação, mas acompanhava a evangelização de Francisco ao longo de sua história. E nem podia ser diferente, pois anunciar a paz para ele era anunciar o reino e vice-versa. De novo, convém salientar que a paz não é apenas um tema entre outros da evangelização, mas é a própria evangelização. E a evangelização só é verdadeira evangelização, se anunciar e visar à construção da paz.


Outro elemento digno de nota é que as palavras de Francisco visavam "extinguir as inimizades e reformar os pactos de paz". Tratava-se de um problema muito concreto, o das inimizades e guerras entre famílias. Evangelizar não é abstração, mas é confrontar-se com problemas concretos, é inserir-se em contextos históricos e aí apresentar o Evangelho como opção ou alternativa para situações que parecem insolúveis. Nesse confronto e inserção, evangelização significa deixar que o Evangelho ilumine as pessoas e coisas envolvidas. O Evangelho é que ilumina tudo e convoca todos à conversão (e à paz).

Após a pregação de Francisco, "muitas famílias foram levadas de novo ao pacto de paz". Deu-se, portanto, uma transformação na vida da cidade. Embora a evangelização não se identifique com nenhuma política partidária, no entanto, ela é profundamente política, tem forte incidência na vida e na organização da sociedade, pois ela apresenta aos cidadãos os valores fundamentais da pessoa humana, valores que muitas vezes estão encobertos, como pequena brasa sob uma montanha de cinzas. Evangelizar é explicitar os valores humanos escondidos no fundo dos corações, é fazer brilhar os pequenos focos do Evangelho presentes, mas não percebidos, no íntimo de cada um em forma de desejo, de anseio, de sonho, de utopia, de esperança.


As Fontes Franciscanas apresentam outros episódios em que Francisco, exercendo sua tarefa de evangelizador, provocava os habitantes das cidades ao pacto de paz. Além de Bolonha, são conhecidos os casos de Arezzo (16) e de Sena (17). Mas parece que os pactos entre famílias eram constantes. A Legenda dos Três Companheiros apresenta-os como um fenômeno generalizado:

"Portanto, o homem de Deus, Francisco, subitamente transbordante do espírito dos profetas [ ... ], segundo a palavra profética, anunciava a paz, pregava a salvação (cf. Is 52,7), e muitos, que por viverem na discórdia estavam distantes da salvação de Cristo, pelas salutares admoestações dele se coligavam [em aliança de paz]" (18).

A evangelização (o Evangelho) tem, portanto, força política para transformar a realidade, mesmo que ela não se identifique com a política partidária. Fique bem claro que, ao fazermos esta afirmação não queremos despolitizá-la; pelo contrário, queremos apontar exatamente onde reside sua força política transformadora.

4. A visita ao Sultão: em vez de proselitismo, uma proposta de paz (tolerância religiosa, tolerância com o diferente, tolerância com outras culturas)
Em vários textos, desde a Primeira Vida escrita por Tomás de Celano (1 Cel) até Fioretti, encontramos o relato da ida de Francisco ao Sultão dos sarracenos (l9). Além desses textos, existe documentação em outros textos, que não estão incluídos nas nossas Fontes Franciscanas e Clarianas: Bernardo Tesoureiro, História de Eráclio, Crônica da Dinamarca. Portanto, parece fora de dúvida que Francisco tenha ido, de fato, fazer uma visita ao Sultão. Além de algumas diferenças de detalhes nas diversas redações, o enfoque também varia. Por exemplo, na redação de Atos e de Fioretti, a introdução de uma mulher que tentava seduzir Francisco destaca a castidade heróica de Francisco. A recusa de presentes é uma constante. Todos afirmam também que Francisco se dirigiu ao Sultão para convertê-lo à fé cristã. Por isso, no final das narrativas permanece um sabor amargo de fracasso, um certo desapontamento. Alguns tentam disfarçar esse fracasso, acrescentando que o Sultão pediu que Francisco rezasse por ele para que ele abraçasse a verdadeira fé. Outros acrescentam até a conversão milagrosa do sultão por intercessão de Francisco (20).

Preferimos uma outra leitura dos fatos. Pelo que deduzimos da evangelização desenvolvida por Francisco, que levava o povo em guerra a pactos de paz, a intenção dele ao visitar o Sultão deve ter tido essa finalidade concreta: Uma proposta de paz que ele fazia em nome não dos reis do Ocidente Cristão, nem mesmo do papa, mas em nome do Evangelho. Evangelização, sem dúvida, mas de maneira muito concreta, na forma de uma proposta de paz. Sem intenções de proselitismo. Sem a intenção primeira do martírio, embora Francisco tivesse a coragem de enfrentar também o martírio.

De sua parte, os biógrafos contemporâneos de Francisco não podiam ter outra ótica, a não ser a do proselitismo e a do martírio. Converter o Sultão, converter os muçulmanos ao cristianismo, ou melhor, ao regime de cristandade, teria sido a grande meta de Francisco. Quanto ao desejo do martírio, criou-se uma mentalidade entre os cristãos de que o sarraceno, além de ser o inimigo da fé, era também o ser mais cruel sobre a face da terra, pronto a degolar o cristão pelo simples fato de ser cristão. Na mente do povo cristão criou-se uma verdadeira neurose de guerra contra os sarracenos. Matar o sarraceno era ser herói de Cristo; morrer nas mãos do sarraceno era ser martirizado por Cristo. Toda a Europa respirava este ar.

Mas as circunstâncias levam-nos a deduzir que a meta concreta que Francisco queria atingir era um tratado de paz, como já havia feito em algumas cidades e entre algumas facções por onde ele passava. O que deve ter causado grande admiração em Francisco era o fato de toda a cristandade estar envolvida numa guerra. E ninguém, nem da Igreja nem dos governos da Europa, propunha uma alternativa. Parafraseando o que Francisco disse a respeito da inimizade entre o bispo e o podestà de Assis, ele deve ter pensado a respeito da inimizade entre cristãos e sarracenos: "É grande vergonha para nós, servos de Deus, que ninguém se intrometa para tratar da paz e concórdia com eles" (21).

A atitude de não proselitismo comporta acima de tudo tolerância para com outras religiões. No fundo, é aceitar que o outro seja diferente, pense diferentemente e possa agir diferentemente. Ser diferente não é defeito. O fato de ser diferente não coloca ninguém sobre ou sob os outros. Isto é a base para qualquer diálogo, ecumênico, inter-religioso, intercultural. O diálogo cria laços.

Consta em todos os relatos que o Sultão e Francisco estreitaram entre si laços de estima, respeito e amizade.

5. A saudação da paz (fraternidade) - construir a paz a partir das pequenas coisas
No Testamento, Francisco faz alusão à saudação da paz como algo revelado por Deus. Note-se que a saudação da paz já consta no texto do envio. A Compilação de Assis narra um episódio interessante:
" ... nos primórdios da religião, quando o bem-aventurado Francisco andava com um irmão que foi um dos doze primeiros irmãos, esse irmão saudava os homens e as mulheres pelo caminho e aqueles que estavam nos campos, dizendo: 'O Senhor vos dê a paz' (cf. Nm 6,26; 2Ts 3,16). E porque os homens ainda não haviam ouvido tal tipo de saudação ser dita por religioso algum, disto muito se admiravam. Mais ainda, alguns homens, quase com indignação, lhes diziam: 'o que lhe significa esta saudação (cf. Lc 1,29)?'. De modo que aquele irmão começou a envergonhar-se muito disso. Por isso, disse ao bem-aventurado Francisco: 'Deixa-me, irmão, dizer outra saudação'. Disse-lhe o bem-aventurado Francisco: 'Deixa-os falarem, porque não percebem o que vem de Deus (cf. 1 Cor 2,14). Mas não te envergonhes disso, porque te digo, irmão, que os nobres e príncipes deste mundo ainda mostrarão reverência a ti e aos outros irmãos por este gênero de saudação" (22).

Francisco está convencido de que a saudação da paz ainda vai fazer com que os príncipes e nobres deste mundo fiquem admirados. Ele crê na grandeza e eficácia desta saudação. No início, aquele irmão não entendeu bem o sentido dela, sentiu vergonha de usá-la, pediu para trocar a saudação. Francisco insistiu nela.

E nós nos perguntamos: "Por que essa insistência de Francisco na pequena saudação?".

Embora Francisco não tivesse tido os conhecimentos da Psicologia moderna desenvolvida a partir de Freud com a "descoberta" do inconsciente, ele mostra uma intuição psicológica muito profunda. Ele conhece o valor formativo da repetição. A repetição age no inconsciente. A repetição de uma palavra ou gesto acaba criando o chamado hábito que, por sua vez, vai como que fornecendo seiva para a vida espiritual. Isto acaba criando uma mentalidade, um modo de pensar, um modo de agir, um modo de ser. Talvez Francisco não tivesse conhecido o provérbio como nós o formulamos hoje: "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura". Mas o dinamismo é o mesmo. É a força das coisas pequenas que acabam criando algo grandioso. Usando positivamente a comparação da gota de água, é como as gotas da chuva que nas cavernas formam o estalagmite e o estalactite, criando verdadeiras obras de arte, não de repente num piscar de olhos, mas ao longo dos dias, dos anos e dos séculos. Desse modo, a saudação é capaz de estabelecer relações de amizade, de fraternidade. Começamos a pensar como amigos daqueles que nos desejam paz. Sentimo-nos irmãos deles. E, se nos sentimos amigos e irmãos, a paz já começa a ser construída.


Talvez um erro nosso, de homens modernos, seja o de não acreditarmos na força das coisas pequenas. Precisamos logo de coisas grandiosas, de preferência de coisas ou de eventos que resultem em sucesso internacional. O dia-a-dia, o tijolo por tijolo (como na construção das grandes catedrais) não nos atrai. Somos mais atraídos a fazer belíssimos discursos sobre a paz em nível nacional e internacional, mas não queremos aceitar que a vivência quotidiana da fraternidade é como a areia que entra na argamassa da construção da paz. Bastaria para nós, franciscanos e franciscanas, viver a fraternidade, para sermos construtores da paz. A fraternidade é profundamente evangelizadora. E se é evangelizadora, é proposta de paz para os outros, é convite para que todos vivam em paz, como irmãos. Isso é o reino.

Mas o homem moderno não acredita que viver em fraternidade possa ter força. O moderno precisa de atividades, preferentemente de atividades ad extra. Ele pressupõe que, quando fala de fraternidade ou de paz, ela já as possui, por isso trata de levá-las aos outros que não as possuem. Aí entra Francisco com sua pedagogia: "Assim como proc1amais a paz com a boca, assim em maior medida a tenhais nos vossos corações".

Não é por acaso que Francisco insista e dê preferência à evangelização pelo modo de vida. E Francisco era o próprio Evangelho vivo.

6. A paz entre o bispo e o podestà (dois poderes: minoridade, respeito para com o espaço do outro)
É muito conhecida a contenda entre o bispo e o podestà de Assis. As razões desta contenda não nos são dadas pelas fontes. Sabe-se, no entanto, que se criou uma situação de divisão na cidade: de um lado, os que apoiavam o bispo; de outro lado, os que apoiavam o podestà. Uma miniatura da situação da Itália dividida entre guelfos (partidários do papa) e gibelinos (partidários do imperador alemão). E cada um dos oponentes usou suas próprias armas:


"... o que então era bispo de Assis excomungou o podestà de Assis; pois que, indignado contra ele, o que era podestà mandou apregoar [com voz] forte e cuidadosamente pela cidade de Assis que nenhum homem lhe vendesse ou dele comprasse ou com ele fizesse contrato; e assim, muito se odiavam um ao outro” (23).

Embora não saibamos as causas desta inimizade ou ódio, podemos deduzir que outra coisa não pode ter sido, senão o conflito ou luta entre dois poderes. Não se trata de inimizade entre cristão e sarraceno, mas de ódio entre dois cristãos (24). O texto do Evangelho: "Os chefes das nações as mantêm sob seu poder, e os grandes, sob seu domínio. Não deve ser assim entre vós" (Mt 20,25-26) parece não ter penetrado na alma desses dois chefes cristãos.


É difícil lidar com o poder. E a maneira que Cristo propõe, uma maneira alternativa, ainda não foi suficientemente assimilada por muitos chefes cristãos (de Estado) nem por muitos chefes religiosos cristãos. A cada dia, podemos constatar a veracidade do dito: "O poder e o dinheiro corrompem" .


Ao saber disso, Francisco toma uma atitude inusitada: compõe mais uma estrofe do Cântico do Irmão Sol sobre o perdão e envia dois companheiros para cantá-la diante do bispo e do podestà. O resultado é conhecido de todos: o perdão mútuo, a volta à antiga amizade.
Francisco utiliza a música e a poesia como meios de evangelização. Instrumentos tão frágeis para fazer curvar-se a rigidez de dois homens de poder. O que é frágil Deus utiliza para confundir o que é forte, diz São Paulo na Carta aos Coríntios (cf. 1Cor 1,27). Esta é a força da minoridade.

Fazer-se menor é proposta evangélica de paz. Evangelizar e construir a paz pela minoridade é caminho natural, pois os caminhos de Deus são diferentes dos caminhos dos homens. A força de Deus manifesta-se no que é pequeno, na fragilidade, no ser menor. Muitas vezes, pensamos, como o profeta Elias, que a força da evangelização está na grandiosidade dos planos e atividades. O profeta Elias não viu o Senhor no vento forte e violento que raspava as montanhas e fendia os rochedos, nem no terremoto, nem no fogo. Quando passou a brisa suave, Elias cobriu o rosto, porque Deus estava naquele sopro tênue (cf. 1 Rs 19,11-13). Assim, quem quiser ser forte ou o maior, faça-se o mais frágil e o menor. Esta é a pedagogia de Deus: "Assim deve ser entre vós".

A música e a poesia de Francisco são os exemplos desta minoridade. Quem pensaria que uma música e uma estrofe de poesia pudessem levar os dois gigantes do poder a curvar-se um diante do outro, a chorar e a pedir perdão e a perdoar-se mutuamente, a abraçar-se como dois irmãos?


7. O lobo de Gubbio: parábola sobre a paz (o homem reconciliado, da utopia, do reino)
Uma outra historieta muito conhecida de todos é a do lobo de Gubbio (25). Embora alguns queiram dar historicidade a este episódio (em Gubbio se conta que numa escavação fora encontrada a ossada de um lobo muito grande), a nosso ver, ela deve ser compreendida sob o gênero literário que se chama parábola. Parábola significa que o que é narrado não implica necessariamente em ter acontecido historicamente, mas que contém elementos reais, contém uma verdade que se quer transmitir. Uma leitura deste episódio exige, portanto, um processo de despojamento do texto: despir o texto daquilo que é fictício, da sua roupagem literária, para se chegar ao real, à verdade que a roupagem literária quer comunicar.

Um primeiro elemento a ser destacado é que Francisco vai ao encontro do lobo (26) sem armas. A presença do lobo causou um estado permanente de medo e pânico entre a população, de maneira que todos andavam armados como se fossem para a guerra. Francisco despoja-se das armas, como que a dizer: "Não se promove a paz com as armas". Se alguém deve propor a paz, deve ir desarmado ao encontro do outro, ao encontro do diferente. Esta atitude causou grande admiração ao povo.

Segundo elemento: tendo-se encontrado com o lobo, este veio a Francisco com a boca aberta em sinal de agressividade. Francisco conversa com ele mansamente, pacificamente, sem agressão e sem violência, como menor. Diante da minoridade de Francisco, acalma-se a ferocidade do lobo. Percebendo que Francisco não tinha armas, que era menor, o lobo não viu sentido para sua agressividade, pois, na maioria das vezes, a agressividade é apenas resposta a uma agressão gratuita anteriormente recebida.

Terceiro elemento: Francisco dialoga com o lobo. O diálogo restabelece relações rompidas. E diálogo, é bom notar, é estrada de duas mãos. Francisco falava com o lobo, e o lobo falava com Francisco através de sinais (linguagem que lhe era própria). Diálogo inclui, portanto, esforço por compreender a linguagem do outro. Nesse diálogo, Francisco compreendeu que a situação de fome levava o lobo a matar. Ele leu isto na própria situação do lobo. Compreendeu que muita maldade é cometida, não porque a pessoa seja intrinsecamente má, mas por circunstâncias adversas. Mais ainda: nesse diálogo, Francisco não deixou de recriminar os erros do lobo e de exigir dele uma mudança de atitude, como também depois ele vai exigir o mesmo do povo de Gubbio.


Quarto elemento: Tratado de paz no qual se celebra o compromisso de ambas as partes. Este elemento retrata a maneira concreta de Francisco evangelizar. Evangelizar é encamar Evangelho em situações concretas. Como a situação era de guerras entre cidades e conflitos entre famílias, sua evangelização tinha como finalidade palpável os pactos de paz. Este elemento está muito bem retratado na parábola do lobo de Gubbio.

Quinto e último elemento de nossa consideração: A parábola apresenta Francisco como uma figura utópica do homem reconciliado com toda a criação. Retomando a utopia de Isaías, Francisco é apresentado como a criança que brinca com o animal selvagem, do cordeiro que come com o lobo. Aliás, esta interpretação de Francisco como homem reconciliado já se encontra na primeira biografia, em que Tomás de Celano assim se expressa: "Enfim, chamava todas as criaturas com o nome de irmão e, de maneira eminente e não experimentada por outros, percebia com agudeza as coisas ocultas do coração das criaturas, como quem já tivesse alcançado a liberdade gloriosa dos filhos de Deus” (27).

Portanto, Francisco é interpretado como homem reconciliado, homem da utopia, homem do reino de Deus. A parábola tem esta significação como pano de fundo.


8. OFS: uma política da paz (a decisão pessoal que transforma a sociedade)
O movimento franciscano desdobrou-se rapidamente em três Ordens. Dentre as três Ordens, a Ordem Terceira, hoje conhecida como OFS, tem uma maneira especial de evangelizar: levar o carisma franciscano a todos os ambientes seculares. A secularidade é que dá a nota marcante e distintiva dessa Ordem.


Lamentavelmente, com a OFS aconteceu algo que não devia ter acontecido em termos de engajamento na vida secular. Ela perdeu a força de Ordem e tomou-se, em muitos lugares, uma associação de pessoas piedosas. Como Ordem, ela teve um papel muito importante nos primórdios. Ela foi uma das forças motoras de construção da paz. De fato, a história mostra que a decisão dos chamados terceiros ou terciários de não portar armas, uma decisão de nível pessoal, acabou por provocar uma mudança radical na mentalidade bélica da Idade Média. Quando cada um decide fazer a sua parte, por mais pequenina que possa parecer, algo na sociedade muda. De novo, trata-se de acreditar no pequeno, no frágil. Uma atitude frágil acrescentada a outra atitude frágil pode criar aos poucos um modo de pensar diferente. Tanto isto é verdade sobre a OFS que temos documentos em que os príncipes escreviam aos papas, pedindo que obrigasse os terceiros (terciários) a portarem armas novamente. Eles perceberam que estava acontecendo um verdadeiro desarmamento dos cidadãos. Desarmamento, gesto concreto de construção da paz; decisão pessoal que ajudou a criar toda uma mentalidade de paz.


A OFS, como Ordem franciscana cuja característica é a inserção na secularidade, deveria estar mais presente na vida política e social. E a partir daí ser uma presença evangelizadora e anunciadora da paz. E como é necessária uma presença evangelizadora nesses setores da sociedade! Seria um modo de estar constantemente denunciando a corrupção, o descaso pelo bem comum, o desapreço pela vida dos cidadãos, mormente pela vida dos pobres.


A política partidária é lugar da OFS, pois ela é secular. E sua missão é evangelizar os partidos em vista de um serviço mais evangélico à sociedade, preferencialmente aos pobres.


Conclusão
Santo Antônio afirmava que os pregadores (evangelizadores) são os pés da Igreja. Esperar-se-ia que eles fossem a boca da Igreja. Possivelmente, Antônio se baseou no texto de Isaías: "Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama boas novas e anuncia a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina" (Is 52,7; cf. Na 2,1). Então, surge a pergunta: Por que os pés e não a boca? Por que também Isaías faz referência aos pés do mensageiro? Porque, para que alguém seja evangelizador, é necessário usar os pés. São os pés que lhe permitem percorrer todos os cantos e recantos das cidades, aldeias e vilas. Aquele que evangeliza, anunciando a paz, não pode estar estático (stabilitas loci), com os pés amarrados, parado num só lugar, mas ir ao encontro das pessoas para transmitir-lhes a mensagem. Não pode esperar que as pessoas venham ao seu encontro, mas ir ao encontro delas. Ser evangelizador (anunciador da paz) implica dinamismo, mobilidade, itinerância (28). Elementos básicos do modo de ser franciscano - segundo nosso parecer - a serem profeticamente resgatados. Na linha da itinerância e da mobilidade dos pés estaria a direção da busca de novas formas de presença evangelizadora por parte dos seguidores de Francisco.

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